sábado, 17 de janeiro de 2009

DESABAFOS

A angústia do vigilante perante o inimigo...
Como professor, nunca me sinto tão inútil e desconfortável como quando sou destacado para... ser vigilante nos exames. Eis uma tarefa que deveria ser cometida a... autómatos. Não tem nada que saber: veste-se a farda de polícia de giro, faz-se uma cara de mau, mostra-se de vez em quando o bastão e está feito...Mais difícil é entreter as horas de turno. Os vigilantes são espantalhos e os espantalhos não lêem, não conversam, não escrevem, não se sentam, não têm necessidades fisiológicas, não dão mais do que três ou quatro passos em linha recta e nunca viram as costas ao inimigo, cujo, como se sabe, é traiçoeiro e vilão.

O vigilante, por tudo isto, não pode jamais dar tréguas ao inimigo.

Tem de estar atento a todos os gestos, suspeitos ou não.

Digo-vos: num sistema de vigilância perfeito (e não facilista, como é o nosso), os vigiados deviam andar nus e completamente desarmados. E antes de entrarem nas instalações, deveriam ser cirurgicamente apalpados e revistados por zelosos funcionários vigilantes...E nenhuma tatuagem seria autorizada...

Foram estas as coisas extraordinárias em que fui pensando esta manhã, enquanto fazia o meu serviço como zeloso vigilante. Não sei se infringi alguma norma procedimental, mas acredito que o pensamento ainda não é escrutinável para efeitos disciplinares...

1 comentário:

  1. O nosso pior inimigo,ás vezes somos nós próprios por ficarmos calados e não dizer o que pensamos e o que sentimos.
    1 Abraço.
    Ne
    "Morte ou Glória"

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